No final do ano passado e depois de a toyno já se ter pronunciado na emobile a Renata convidou-me para falar sobre cultura empresarial. Falei sobre a toyno, a With Company e sobre Design Thinking. É uma entrevista quase falada, sem grande edição, onde a coisa vai saindo em formato de “verdade”.
Seguem as perguntas. Algumas tratam também sobre a criação de uma cultura empresarial que valoriza a inovação. Sinta-se a vontade para responder apenas o que você se sentir confortável!
- De que maneiras o ambiente empresarial interfere no trabalho dos profissionais?
Tudo funciona por processo de contágio. Se eu ando de gravata, os outros terão tendência para usar gravata. Se eu tiver uma parede branca imaculada ela terá tendência a manter-se assim. Nas minhas organizações, a With-Company e a Toyno Studio, as paredes são para colar e escrever. Os tapetes servem para sentar e não apenas para pisar. O espaço é sempre um reflexo da forma como pensamos. Se estiver descontraído, ajuda a que nos sintamos dessa forma. Se estiver colorido, é uma mensagem de que também as ideias o poderão ser. Uma janela com vista para o rio ou para um céu azul também ajuda a prolongar a criatividade, é o que dizem os especialistas. Eu durmo a sesta e ando de chinelos. Talvez seja um exagero.
- Como uma cultura de inovação pode ajudar pequenas e médias empresas?
Não tem a ver com o nível de facturação ou com a quantidade de colaboradores. Tem a ver com cultura. Com cultura de mudança. Não interessa ter uma empresa pequena e achar-se ágil quando não há partilha ou vontade de envolver todos. A inovação está na vontade de mudar e de fazer diferente com significado. A vezes a falta de esperança nessas empresas é o factor que as faz olhar para fora à procura de quem venha fazer isso por eles. Olhar de fora para dentro ajuda sempre mas depois há que pegar e seguir em frente. É isso que do nosso lado tentamos sempre fazer. Não fazemos e entregamos. Fazemos com. E continuamos fazendo. A expressão é um pouco académica mas gostamos da ideia de “transferência de conhecimento”. Tentamos contaminar essas empresas com a nossa cultura durante o tempo suficiente para para que se torne enraizado, adoptado.
- O que é possível fazer para perder o medo de errar?
Aligeirar. Retirar pressão do processo criativo. Atribuir confiança e acompanhar. Explicar porquê no caso de discordância.
- E quando um erro pode custar o futuro da empresa?
Quando um erro pode custar o futuro da empresa? A resposta está no dia em que se faz a empresa. É sempre um risco. Sempre.
- O que difere o design thinking do modo tradicional de fazer design?
Na tomada de consciência do processo de criação ou de resolução de problemas. Na cultura de equipa e de “invasão espacial”, na vontade mais assumida de olhar para o outro. Desenhar para o outro. Mas espera, isso não diva ser também o modo tradicional de fazer design?
- A geração Y está mais preparada para inovar? O que é necessário para ter ideias inovadoras?
Eu nasci em 80 e considero-me um rapaz criativo. Amor e coragem.
- Como o setor moveleiro pode se beneficiar de uma cultura empresarial inovadora? O que é preciso repensar na produção e no desenvolvimento de novos produtos?
O exemplo português é interessante. Parece que anda nos extremos. Há empresas novas, super inovadores e com pouca capacidade de sair e há empresas de peso que não se mexem, são chatas. Os exemplos de maior sucesso são os que vão tentando ligar a duas coisas. As pequenas que conseguem convencer as grandes de que vale a pena cortar uma placa a 45º – que talvez não parta o pedaço de cartão, que se pode coser com fios uma mesa a outra. As pequenas que arranjam argumentos em forma de aposta “vai ver que dá”. E depois há as grandes que fazem esse papel de, ou permitir que lhes dêem a volta, ou assumir que não existe massa crítica interna para inovar no produto e aí vão à procura. Há excepções, há. Mas é por isso que se chamam “excepções”
- Você pode contar um pouco da sua trajetória? Como entrou em contato com o design thinking, o que já realizou dentro desse campo e quais são os planos para os próximos anos?
Eu sou designer de comunicação. Type freak. Criei a minha primeira empresa com 24 anos. Especializei-me em design de identidade. Estudei sobre marcas, sobre como pôr as marcas a falar com pessoas. Como atribuir comportamento a uma marca. Aprendi como pôr o coração no processo criativo e deixei o ego – provisoriamente – de lado e fui à procura dos outros. Foi aqui que surgiu o Design Thinking. A preocupação com o outro, com a necessidade do outro. O ouvir mais, o perguntar mais, o observar mais. O design thinking por ter um nome com mais estilo vendeu-se melhor e ensinou-me coisas que o design ainda não me tinha mostrado. Design thinking é assim um design em estado básico, didáctico. Um lado que ajuda.
Depois foi uma embrulhada. Meti na cabeça que queria trabalhar na IDEO e trabalhei. E não gostei nada. E depois voltei da Alemanha para Portugal para ajudar o meu Pai num negócio de peixe fresco. Peguei no que sabia de marcas e de processos de inovação, convidei o meu sócio da With-Company Tiago e, juntos, ajudámos essa empresa durante uns meses. Depois fiz a Toyno Studio com a Joana Brígido e em dois anos lançámos 15 produtos e fizemos duas exposições incríveis para centros de ciência. Coisas com peso, que levam tempo e queimam neurónios. “Toma, tens aqui uma palavra e agora inventa um conceito, uma história com altos e baixos e mete isto num espaço de 700m2 com 27 módulos interativos…e já agora, tenta convencer os adolescentes a passarem por lá”. Acho que não somos muito maus nisto. Temos uma equipa boa.
Depois da www.toyno.com vem a Peixaria Centenária (www.peixariacentenaria.pt). Pois é. Fiz uma loja de venda de peixe fresco com mais dois amigos, no centro de Lisboa. Acham que somos malucos, mas não. Acreditamos só que temos capacidade para fazer parte desta pequena revolução do comércio local aqui na cidade de Lisboa. E por fim, que isto já se está a alongar, a With-Company.com que junta isto tudo. Que faz os seus próprios negócios e desenha para os outros. Adoramos marcas, falar pelas marcas, pegar no coração dos fundadores dessas marcas e expôs-los numa mesa. Fazemos mandar tudo cá para fora. E não, não nos controlamos, mexemos nos produtos, nos processos e nos negócios dessa gente. Gente com a coragem suficiente para nos abrir as portas e o coração.
O resumo do artigo pode ser encontrado aqui:
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